sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

As putas velhas da Luz

As putas velhas da Luz


Imagem do Filma 69 Praça da Luz
Prostituição, esse sim é um assunto espinhoso em tudo que é canto. Pessoalmente acho babaquice ser “a favor” ou “contra” a prostituição, já que ela é concreta, real, e um fato social no caso da nossa contemporaneidade. Ela está lá e continuará estando por mais que a proibamos. Então já aviso que, para mim, não é esta a questão.

Há, porém, prostituições e prostituições. Esta categoria não é homogênea, é um verdadeiro leque de possibilidades, com sua própria hierarquia de valores sociais. Não sei se alguém se lembra de uma cena incrível de uma das poucas produções razoavelmente críticas da TV Globo, Hilda Furacão, em que três prostitutas conversam. A conversa é uma disputa séria sobre quem é, afinal, “puta”.

A personagem Divinéia (Cláudia Alencar) reforça que não é puta, já que é dançarina do show e eventualmente tem casos com fãs que lhe dão “agrados” em troca. Puta é a Leonor (Paloma Duarte), que fica vagando pelo salão atrás de clientes. Mas ela se rebela, afinal, ela só fica ali conhecendo os homens enquanto se diverte. Puta mesmo é Maria-Tomba-Homem (Rosi Campos), que faz ponto na rua. Nem isso. Toma-Homem é rápida em frisar que ela não é puta, pois trabalha e tem carteira assinada durante o dia, e faz ponto em rua fechada – puta mesmo é quem faz ponto em rua aberta...


 
(Cena de Hilda Furacão, capítulo 1 - vejam a partir de 1 minuto e 50 segundos o diálogo) 

Depois do sucesso de Bruna Surfistinha, que ajudou a quebrar o mito moralista (propagado pela direita, pela esquerda e até por alguns setores do movimento feminista) de que a prostituição não poderia ser encarada como um trabalho qualquer, houve por outro lado uma certa onda de glamourização da condição de prostituta. Oras, eu fico nem lá nem cá – a profissão só pode ser glamourizada, penso eu, no mesmo tanto que qualquer outra profissão pode. Na minha opinião isso depende de condições dignas de trabalho, emprego, segurança, etc. A falta destas condições não significa, porém, que a profissão deva ser extinta, mas que precisamos batalhar para que estas condições de trabalho sejam universais.

Defendo o mesmo no caso do emprego doméstico – e este é um tema também pra lá de polêmico. Ser doméstica é o que muitas prostitutas pobres recusaram. Ser prostituta é o que muitas domésticas pobres recusaram. Essa relação aparece um tiquinho neste documentário fabuloso que convido vocês a assistirem.

“69 Praça da Luz” é um documentário curto, de cerca de 15 minutos, que coleta experiências e visões de mundo e sobre a própria profissão de prostitutas que trabalham na praça da Luz. Elas não são jovens, não são magras-Gisele, não são bonitas. Elas não têm blog, não têm livro escrito, não são convidadas para reality shows. Elas são a realidade, em si, nua e crua, com as mazelas e as belezas da vida de cada uma.

Assista completo aqui (69 Praça da Luz - documentário):


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