sábado, 18 de agosto de 2012

“Querido estudante de classe-média privilegiado: essa conversa não é sobre você!”

“Querido estudante de classe-média privilegiado: essa conversa não é sobre você!”

Quando você argumenta que seus pais só pagam seu cursinho porque trabalham muito, eu não me comovo. Porque o que me comove são as pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais, ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para os filhos
Por Tamara Freire, em seu blog
Querido estudante branco, de classe média, que faz cursinho pré-vestibular particular: eu sei que é difícil quando alguém nos faz enxergar nossos próprios privilégios, mas deixa eu tentar mais uma vez.
Eu (e mais uma penca de gente, me arrisco a dizer) não me importo com o quão “difícil” será para você entrar naquele curso de medicina mega concorrido com o qual você sonha, porque, simplesmente, esta conversa não é sobre você.
Eu sei que praticamente todas as conversas deste mundo são sobre você e você está acostumado com isso, então deve ser um baque não ser o centro das atenções. Mas, seja forte! É verdade: nós não estamos falando sobre você.
Quando você chora pelo sonho que agora parece mais distante de se realizar, suas lágrimas não me comovem. Porque o que me comove são as lágrimas daqueles que nascem e crescem sem qualquer perspectiva para alimentar o mesmo sonho que você. É sobre essas pessoas que estamos falando e não sobre você.
Quando você esperneia pelos mil reais gastos todos os meses com a mensalidade do seu cursinho e que agora se revelam “inúteis”, eu não me comovo. Porque o que me comove são as milhares de famílias inteiras que se sustentam durante um mês com metade da quantia gasta em uma dessas mensalidades. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você argumenta que, na verdade, seus pais só pagam seu cursinho porque trabalham muito ou porque você ganhou um desconto pelas boas notas que tira, eu não me comovo. Porque o que me comove são as pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais, ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para os filhos, quem dirá uma mensalidade escolar por mais barata que seja. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você muito benevolente até admite que alunos pobres tenham alguma vantagem, mas acredita ser racismo conceder cotas para negros ou outros grupos étnicos eusa até os dois negros que você conhecem que conseguiram entrar numa universidade pública sem as cotas, como exemplo de que a questão é puramente econômica e não racial, eu não me comovo. Na verdade, eu sinto uma leve vontade de desistir da raça humana, eu confesso, mas só para manter o estilo do texto eu preciso dizer que o que me comove é olhar para o restante da sala de aula onde esses dois negros que você citou estudam e ver que os outros 48 alunos são brancos. E olhar para as estatísticas que mostram a composição étnica da população brasileira e contatar a abissal diferença dos números. É sobre os negros que não estão nas universidades que estamos falando, não sobre você ou seus amigos.
Se a coisa está tão ruim, que tal propormos uma coisa: troque de lugar com algum aluno de escola pública. Já que não é possível trocar a cor da sua pele, pague, pelo menos, a mensalidade para que ele estude na sua escola e se mude para a dele. Ou, seja a cobaia da sua própria teoria. Já que você acredita que a única ação que deveria ser proposta é melhorar a educação básica: peça para o seu pai investir o dinheiro dele em alguma escola, entre nela gratuitamente junto com alguns outros alunos, estude nela durante 12 anos e então volte a tentar o vestibular. Ah, você não pode esperar tanto tempo? Então, porque os negros e pobres podem esperar até mais, já que todos sabemos que o problema da má qualidade da educação básica no Brasil não é algo que pode ser resolvido de ontem pra hoje?
Então, por favor, reconheça o seu privilégio branco e classe média e tire ele do caminho, porque essa conversa não é sobre você. Já existem espaços demais no mundo que têm a sua figura como estrela principal, já passou da hora de mais alguém nesse mundo brilhar.

10 comentários:

Anônimo disse...

O que faz o branco entrar na universidade e o negro não?

reee disse...

Essa conversa também não é sobre você, estudante semi-revoltada branca de classe média q escreveu isso.

Anônimo disse...

OLHA, RACISMO CONTRA BRANCOS DA CLASSE MÉDIA!
Vem pagar nosso cursinho então.

Jessica disse...

Olha, sinceramente, achei esse seu ataque aos brancos de classe média privilegiada totalmente desnecessário e sem sentido.
Analogamente aos cotistas sociais, não é culpa dos vestibulandos brancos de classe média que nasceram numa posição privilegiada na sociedade. Não é culpa deles que os pais tenham condição de pagar um cursinho (o que, afinal, são eles que pagam, não são os pobres, nem o governo, nem você, cara autora deste texto extremamente subjetivo. Se quer culpar alguém, se quer ATACAR alguém, ataque o governo. Não digo em atacar exclusivamente a presidenta em curso, mas sim o governo brasileiro como uma unidade, que não investe o suficiente - e nunca investiu - na Educação Pública gratuita. O sistema de cotas só serve para remediar esse mal que o governo vem infringindo ao povo. Na essência, deveria ser temporário, mas não vemos esforço do governo para que daqui alguns anos as cotas não sejam necessárias, quando todos, sem exceção, tenham capacidade de passar na universidade como iguais, concorrendo ao mesmo número de vagas. Resumindo, essa conversa não é sobre a classe média privilegiada branca, nem sobre a classe desprivilegiada negra ou não, mas sim sobre a incapacidade do governo de suprir uma necessidade do desenvolvimento humano: educação básica qualificada (fundamental e médio principalmente, pois são as bases do indivíduo).

Anônimo disse...

A questão não é sobre a dificuldade que o candidato passou para estar ali, isto só serve para fazer proselitismo de facil entendimento. A questão importante é se queremos que o nivel de ensino baixe ainda mais, não porque "aluno pobre é burro" e sim porque " sem base não dá para evoluir". Queremos poder dizer que o numero de brasileiros com diploma aumentou ou queremos aumentar o nivel de instrução de nossa população? Tirando isto todo o resto é só blablabla e só serve para manter o estilo do texto.

Lucas Gonzaga disse...

Sou de classe média, minha é militar e me criou sozinha. Não tem noção do quanto trabalhou para me criar, para me dar a educação que tenho, para me dar até mesmo uma consciência socialista. Saindo 5 da manhã de casa, chegando meia noite, não tendo final de semana ne natal ou ano certo...

Anônimo disse...

"ai ui o ataque aos brancos de classe média privilegiada"

tadinhos, né? dos brancos tão oprimidos. tão coitadinhos. olha a história de opressão deles. vou até rezar aqui uma ave maria pra eles, porque olha? MORRO de dó.

agradeça a deus porque você NUNCA vai saber o que é repressão.

cotas SEMPRE. para pobres, para negros. nós DEVEMOS isso a todos eles.

Anônimo disse...

o branco babaca da classe média quer que paguem o cursinho dele, ói, que bunitico!

se considerar isso racismo, ou o que quiser, vá em frente! tenho NOJO do pensamento dessa gente. da vida que vão ter. que morram na mediocridade a que estão condenados.

cotas SEMPRE.

Anônimo disse...

Sou totalmente a favor das cotas e não acredito que o nível da educação superior vá ficar mais baixo. Pelo contrário.
Os cotistas são conhecidos, em sua maioria, pelo empenho extra em aprender e desenvolver suas habilidades ao conseguir sua tão sonhada vaga em uma universidade.
As cotas serão realidade, quer os branquinhos queiram, quer não.
Ah... E só para constar: Sou branca, estudei a vida toda em escola particular, fiz cursinho e no fim das contas fiz faculdade particular.
Cotas sim!

Anônimo disse...

Sou branco, descendente de italianos os quais foram explorados pelos latifundiários do café, vivendo praticamente em regime de escravidão, pois tudo no armazem era cobrado com um ágio enorme, até a passagem da Italia para o Brasil era cobrada, no final o salário era sempre inferior ao que se devia no armazém do proprietário de terras. Tendo em vista isso e como moro em comunidade, por que eu não tenho direito também à cotas?